quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Tecnologia pode melhorar a produtividade ou disparar a ansiedade. Aprenda como usá-la para tornar-se mais eficiente


Hoje em dia, é quase impossível não discutir como o trabalho se encaixa na busca de um propósito de vida maior.

Nesse sentido, o congresso Wisdom 2.0 (cuja quarta edição ocorreu em fevereiro deste ano, em São Francisco, num centro de convenções que fica a algumas quadras da sede de Twitter, Airbnb, Zynga e Dropbox) reuniu  profissionais da indústria digital para debater os caminhos que a tecnologia tomou na vida das pessoas e para entender como ela poderia proporcionar empregos — e existências — mais cheios de significado e profundidade.

“Como seres humanos, devemos encontrar o equilíbrio no uso da tecnologia”, disse Padmasree Warrior, diretora de tecnologia e estratégia global da Cisco e na 58a posição na lista das mulheres mais poderosas do mundo em 2012 da revista americana Fortune.

A proposta do evento, que tem o Google como principal patrocinador, é colocar presidentes das maiores empresas do ramo, executivos, profissionais da área de saúde, professores de universidades renomadas e alguns instrutores de meditação para pensar os efeitos da tecnologia: ela nos faz trabalhar demais? Estamos mais distraídos? Nos tornamos pessoas superficiais? Nossa ansiedade aumentou?

A era digital trouxe avanços indiscutíveis para a forma como trabalhamos e vivemos. Há ganhos significativos de produtividade para profissionais e empresas.

Mas, nas mudanças comportamentais e sociais que smartphones, softwares, tablets, aplicativos e redes sociais estão provocando, o trabalho tem um papel central. Talvez o escritório seja o lugar em que as marcas da tecnologia sejam mais profundas — tanto as boas quanto as ruins.

Uma pesquisa feita em 2012 pelas consultorias McKinsey e IDC aponta que, nos últimos quatro anos, ferramentas colaborativas aprimoraram a eficiência de processos corporativos.

Mas a tecnologia criou novos problemas profissionais. Um deles, aparentemente simples de resolver, é a distração. Estamos disponíveis para receber mensagens e estímulos eletrônicos o tempo inteiro. Um estudo da Universidade da Califórnia, campus de Irvine, mostra que profissionais que trabalham em frente de um computador são interrompidos (ou interrompem-se espontaneamente) a cada três minutos.

Toda vez que isso ocorre, leva-se até 23 minutos para retomar a tarefa. “Em uma semana, um profissional distraído perdeu muitas horas de trabalho”, diz o psiquiatra Frederico Porto, consultor da LHH/DBM, empresa de recolocação de executivos, de Belo Horizonte. “Além disso, o desgaste mental de mudar de uma atividade para outra faz a pessoa ficar muito mais cansada”, diz Frederico.

A tecnologia também tem efeitos sérios sobre a ansiedade. De acordo com Kelly McGonigal, PhD em psicologia e professora da escola de negócios da Universidade Stanford, em São Francisco, o sistema de recompensa do cérebro, o mesmo que nos faz ingerir alimentos para não morrer de fome, se adaptou à era digital e hoje é carente também de informação.A consequência é sentir necessidade de consumir notícias como se sente vontade de jantar.

A solução é tomar consciência e assumir o controle de sua vida digital. “A tecnologia distrai as pessoas, mas nós é que temos que ter a responsabilidade de decidir o que iremos fazer com ela”, afirma Michelle Gale, ex-diretora de aprendizado e desenvolvimento do Twitter, que saiu da empresa no ano passado e hoje dirige uma empresa de coach online e de feedback, a Tilt 365, em Raleigh, na Carolina do Norte.

A maneira de fazer isso, diz Michelle, não é adotando soluções radicais, como se desconectar ou fugir da tecnologia. É preciso encarar o monstro com disciplina. “Nossa obrigação é aprender a usar a tecnologia e ensinar nossos filhos a se relacionar com ela”, diz.

No congresso Wisdom 2.0, as empresas deram sinais de que já constataram hábitos digitais prejudiciais ao desempenho e começam a fazer ajustes. Uma das ações mais comuns é aumentar o cuidado nas interações pessoais. É o que faz, por exemplo, Melissa Daimler, diretora de educação e desenvolvimento do Twitter, de São Francisco. “Quando alguém vem falar comigo, fecho o meu computador”, disse Melissa.

Entre os benefícios da tecnologia há os que se dizem satisfeitos de poder fazer tudo ao mesmo tempo (a dita multitarefa). No entanto, do ponto de vista cerebral, isso pode ser estressante e comprometer a qualidade do trabalho.

Estudos da Universidade Stanford mostram que, quanto mais a pessoa se julga eficiente fazendo várias coisas ao mesmo tempo, pior ela as executa. E, quando for necessário se concentrar numa única atividade por longo tempo, a pessoa terá de fazer um esforço maior.

“Para nosso cérebro, não há multitarefas”, afirma o psiquiatra Cristiano Nabuco, da Universidade de São Paulo. De acordo com ele, quando tentamos fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, nosso cérebro acaba destinando pouca energia e atenção a cada tarefa. “Fazemos muito bem somente uma coisa por vez. Quando somos multitarefas nos tornamos ineficientes”, diz Rich Fernandez, diretor de RH do Google nos Estados Unidos.

O trabalho moderno é conectado. Não dá para escapar. Melhor é ver o lado positivo e cortar o negativo. No ano passado, o Facebook contratou Dacher Keltner, psicólogo da Universidade da Califórnia no campus de Berkeley e estudioso de relações humanas, para entender como poderia tornar menos frias as interações entre os usuários da rede social.

A intenção da empresa é incluir, por exemplo, sons nos posts e comentários. “A tecnologia pode fazer as relações ficarem mais próximas e os laços mais fortes”, afirma Dacher. “Mas sabemos que não há substituto para abraços ou para o olho no olho.”

(fonte: Exame.com)

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